Saiba o que ocorre no mercado para onde o mundo olha e se pauta sobre cenários de oferta e demanda de commodities agrícolas
Neste momento, as commodities estão fora do radar dos investidores do mercado financeiro nas bolsas norte-americanas, para as quais o mundo inteiro olha. Isso porque esses investidores têm optado por direcionar recursos a outros ativos – mesmo que eles voltem a ser destaque em breve.
O fato é que, no último período, as matérias-primas da classe energia, alimentos e financeira têm apresentado saídas consistentes dos fundos negociados nas bolsas em agosto/setembro, de acordo com dados do ICI (Investment Company Institute), associação global de fundos regulamentados, incluindo os mútuos, os negociados em bolsa, os fechados e os unitários nos EUA e os fundos similares oferecidos a investidores em todo o mundo). O mercado financeiro classifica quatro tipos de commodities: agrícolas, ambientais, minerais e energéticas, e financeiras.
Em cinco semanas consecutivas, até 20 de setembro, que são os dados mais recentes, os investidores tiraram US$ 1,6 bilhão (R$ 8,1 bilhões na cotação atual) de suas posições. Nenhuma outra categoria, incluindo fundos de obrigações, de ações e híbridos, registrou resgates tão constantes. Também é verdade que nenhum deles viu influxos dessa ordem.
O padrão semanal dos investimentos nesses segmentos mostrou um cenário de baixa e um dos motivos é a falta de perspectiva de retornos sólidos da classe de ativos. E aqui começa um outro capítulo dessa história recente. Os investidores, muitas vezes, consideram que os preços em baixa extrema, em determinada classe de ativos, é um indicador contrário do que parece. Na prática, quanto mais o mercado desenhar a queda nos preços, maior será a probabilidade dos valores, na verdade, subirem.
De acordo com essa premissa de mercado, pode-se esperar uma subida dos preços em grande parte do setor. Não por acaso, alguns especialistas acreditam que esse momento já chegou. Para essa conclusão, existem alguns pontos analisados. O primeiro é em relação ao clima. Há previsões de que o inverno nos Estados Unidos, neste ano, seja ainda mais intenso. “Juntamente com a neve acima do normal, veremos temperaturas mais frias do que a média em áreas que normalmente já nevam”, afirma o Old Farmers Almanac, plataforma de informações sobre previsões meteorológicas, gráficos de plantio, entre outros.
Isso pode parecer insignificante, mas não é. O clima do inverno passado nos EUA foi excepcionalmente ameno e isso ajudou a manter os preços do gás natural mais baixos, em comparação quando há temperaturas mais baixas. Se a próxima estação for mais intensa, os preços do gás natural, uma referência de mercado, poderão aumentar. O gás natural registrou, recentemente, US$ 2,93 (R$ 14,86) por milhão de unidades térmicas britânicas, abaixo do máximo para novembro de 2022, de US$7,49 (R$ 38). Os dados são da Trading Economics . Embora os preços possam não voltar ao seu máximo anterior, podem alavancar quando o tempo ficar mais frio.
Com isso, as commodities podem recuperar preços anteriores, segundo um relatório recente da Hackett Financial Advisors, consultoria financeira e de investimento, sediada em Boca Raton, na Flórida (EUA). Entre outros, um levantamento realizado pela Hackett destaca três prováveis pontos fortes no setor agrícola:
“É hora de hedgers/traders comprarem milho de longo prazo, para dezembro de 2024”
“Safras de açúcar e cacau estão com projeções para possíveis volumes históricos”
“O complexo do trigo está em posição ideal para um grande movimento de baixa e impulsivo na bolsa de Chicago.” (valores praticados nessa bolsa são referências globais)
O CEO da consultoria, Shawn Hackett, com mais de 20 anos de experiência de mercado, completa: “Se o Brasil e os EUA tiverem produções agrícolas mais baixas – e há possibilidade de que isso ocorra –, então haverá uma grave escassez de milho nos EUA”.
A falta de grãos, que inclui trigo, milho e soja, pode significar preços mais altos. E dada a importância do Brasil e dos EUA, a recuperação dos preços poderá ser significativa.
Além disso, as exportações menores de alimentos da Índia, posição que tem sido colocada pelo país que é um importante produtor, provavelmente vão pressionar ainda mais os preços. As commodities em questão são arroz, trigo e açúcar. Outro detalhe que pode mexer com os preços é que os indianos importam muito leite, afirma Hackett. Portanto, é bem provável que as commodities se recuperem em breve e atraia, novamente, os investidores que estavam mais recuados.
*Simon Constable é colaborador da Forbes EUA e colunista doThe Wall Street Journal. Também escreve para Middle East Eye, TheStreet.com, The South China Morning Post, Barron’s, Time Magazine, MarketWatch, CityWire. É co-autor do livro “The WSJ Guide to the 50 Economic Indicators that Really Matter”.
Fonte: Forbes