Brasil deve focar em áreas estratégicas, diz Rubens Barbosa
Em uma análise direta sobre os rumos da estratégia internacional do Brasil, Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, destacou a necessidade de o país concentrar seus esforços e recursos em áreas em que possui reais capacidades e vantagens competitivas. Segundo Barbosa, o Brasil não pode se dar ao luxo de desperdiçar capital diplomático com pautas nas quais não exerce influência significativa.
Por que o Brasil deve priorizar atuações estratégicas?
Rubens Barbosa afirmou, em entrevista realizada na última quinta-feira (1º.fev.2024), que o país precisa redirecionar sua política externa, focando prioritariamente em áreas de interesse direto. Temas como mudanças climáticas, transição energética e comércio internacional devem ser o foco do Itamaraty, de acordo com sua visão. Ele destacou que, para o Brasil ser mais eficaz no cenário global, é necessário atuar onde há potencial de liderança e influência.
“O Brasil não deve perder tempo e energia onde não tem força. Deve fazer escolhas claras e objetivas”, destacou o diplomata. Com uma longa trajetória na política internacional, Barbosa argumenta que a estratégia internacional do Brasil deve ser pragmática e alinhada a resultados concretos.
Guerras e conflitos: neutralidade ou ausência de poder?
Em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, e o conflito entre Israel e Hamas, Barbosa considera que a influência do Brasil é limitada. Segundo ele, o país não tem representatividade suficiente nesses contextos para exercer uma mediação ou influência real. “O Brasil não tem nenhum poder real nos conflitos”, pontuou. Ele considerou legítimo que o país tenha posição clara sobre temas humanitários, mas ponderou que não haverá impactos significativos vindos do Brasil nesses casos.
Portanto, segundo Barbosa, insistir nessas agendas faz pouco sentido estratégico. Ao contrário, canalizar esforços diplomáticos para áreas como meio ambiente e comércio pode gerar ganhos tangíveis e fortalecer a imagem do país no cenário internacional.
Integração regional deve ser prioridade na estratégia internacional do Brasil
Rubens Barbosa também defendeu, durante a entrevista, uma maior atenção à América do Sul como prioridade da política externa. A integração com os países vizinhos deve ser encarada como uma extensão natural da influência brasileira. “É necessário concentrar nossa presença diplomática na América do Sul, onde podemos exercer maior influência”, afirmou ele.
A estratégia internacional do Brasil, para ser eficiente, precisa entender seu entorno imediato. Investimentos em infraestrutura regional, acordos comerciais estratégicos com países vizinhos e fortalecimento de blocos regionais são caminhos em que o Brasil pode exercer uma liderança mais concreta. Desse modo, o país não apenas aumenta sua influência, como contribui para a estabilidade e o crescimento coletivo da região.
Brasil no G20: uma oportunidade de liderança temática
Com a presidência do G20 em 2024, o Brasil tem uma oportunidade única de mostrar ao mundo qual a sua visão e contribuição para temas globais. Barbosa argumenta que o país deve aproveitar esse momento para destacar pautas nas quais pode assumir protagonismo. Entre elas, ele destacou:
- Combate à fome
- Meio ambiente e mudanças climáticas
- Reformas em estruturas de governança global
Essas são, segundo ele, áreas em que o Brasil acumula experiência, possui credibilidade e pode trabalhar por consensos multilaterais. “O país pode ser ouvido quando trata desses temas, por seu histórico e pela condição de país em desenvolvimento relevante”, disse.
Reformas no Conselho de Segurança da ONU: um objetivo distante
Rubens Barbosa se mostrou cético diante da possibilidade de o Brasil conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Apesar de reconhecer a importância da reforma, ele afirma que as resistências estruturais tornam essa meta praticamente inalcançável no curto e médio prazo. “É louvável lutar por essa vaga, mas é uma luta mais simbólica do que efetiva”, apontou.
Portanto, o Itamaraty deveria atuar de forma mais realista, focando em reformulações práticas nos mecanismos de governança internacional, como novos formatos de representação ou revisão de regras de decisões em organismos multilaterais.
Avaliação da diplomacia brasileira sob Lula
Quando questionado sobre a política externa conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Barbosa reconheceu esforços positivos. Contudo, fez críticas pontuais à atuação diplomática em temas como Venezuela e Oriente Médio. “Há momentos em que o discurso é desconectado da realidade política internacional”, afirmou.
Pontuando que o Brasil deveria seguir mais alinhado a uma orientação pragmática, ele acredita que é essencial evitar a politização ideológica da política externa. Para ele, os interesses nacionais devem sempre se sobrepor a compromissos ideológicos.
Desafios e oportunidades para a estratégia internacional do Brasil
Com a crescente complexidade das relações geopolíticas, o Brasil precisa agir com inteligência e foco. Seguindo a análise de Rubens Barbosa, o país pode se beneficiar de uma estratégia que:
- Priorize agendas com ganhos mensuráveis
- Otimize os escassos recursos diplomáticos
- Fortaleça alianças regionais e multilaterais
Além disso, Barbosa argumenta que é necessário modernizar o Itamaraty, capacitando diplomaticamente o país para os novos desafios do século 21, incluindo temas como tecnologia, cibersegurança, inovação e sustentabilidade.
Assim, o Brasil estará mais preparado para atuar de maneira assertiva na arena internacional, construindo pontes, influenciando decisões e defendendo os interesses de sua população em fóruns multilaterais.
Conclusão: foco, realismo e resultados para a política externa brasileira
Rubens Barbosa deixa claro que a política externa deve ser guiada pelo pragmatismo e pela busca de resultados. A estratégia internacional do Brasil não pode se perder em discursos que não geram frutos. Pelo contrário, o país deve identificar onde pode exercer liderança e investir nisso com inteligência e consistência.
Com os holofotes internacionais voltados para temas como sustentabilidade, segurança alimentar e comércio justo, existem janelas de oportunidade para que o Brasil ocupe espaço relevante e positivo. Basta construir uma presença estratégica, articulada e fundamentada em interesses claros.
Em tempos de desafios globais intensos, o Brasil tem muito a contribuir. Mas, para isso, precisa saber onde agir — e onde é melhor apenas observar.