Envenenamento Por Chumbo Em Compota De Maçã Afeta Crianças Em 44 Estados Norte-Americanos

No ano passado, saquinhos de compota de maçã com sabor de canela, disponíveis em supermercados e lojas da rede Dollar, foram associados a casos de envenenamento em centenas de crianças nos Estados Unidos, devido à presença de altas concentrações de chumbo. Preocupados, os pais estão atentos a possíveis sintomas de danos cerebrais, convulsões e atrasos no desenvolvimento de seus filhos.

A Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pelo controle de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, corroborou as descobertas de investigadores equatorianos, indicando que um moedor de especiarias, incluindo canela, foi provavelmente responsável pela contaminação. A FDA afirmou que o rápido recall de três milhões de saquinhos de compota de maçã evitou a disseminação da contaminação na cadeia alimentar.

De acordo com informações obtidas pelo “The New York Times” e jornalistas de saúde da organização sem fins lucrativos The Examination, documentos e entrevistas revelam que a compota de maçã contaminada passou por vários pontos de controle do sistema de segurança alimentar antes do recall. Essa exposição tóxica é considerada uma das mais abrangentes em alimentos destinados a crianças em décadas, afetando crianças em 44 estados, algumas das quais consumiram compotas com níveis extraordinariamente elevados de chumbo.

A canela, originária do Sri Lanka, foi processada no Equador, onde, segundo a FDA, provavelmente foi contaminada com cromato de chumbo, uma substância usada ilegalmente para tingir ou aumentar o volume da especiaria. A Austrofood, empresa responsável pela produção e venda da compota de maçã contaminada nos Estados Unidos, não realizou testes para detectar chumbo na canela ou no produto final, confiando em um certificado do fornecedor, Negasmart, que afirmava que a canela era praticamente isenta de chumbo.

A FDA, embora tenha autoridade para inspecionar empresas alimentares estrangeiras, enfrenta desafios com inspeções internacionais aquém das metas estabelecidas por lei, especialmente em meio ao aumento das importações alimentares. Os documentos revelam que a Austrofood não foi inspecionada pelos EUA nos últimos cinco anos.

A FDA alega não ter autoridade para investigar a cadeia de abastecimento internacional, enquanto os documentos indicam que o governo equatoriano tinha autoridade, mas enfrentou desafios de capacidade. As auditorias de segurança privadas encomendadas por importadores norte-americanos não ofereceram uma camada efetiva de proteção, uma vez que se concentraram em perigos conhecidos pelos importadores.

O incidente levanta questões sobre a eficácia do sistema de segurança alimentar e destaca a necessidade de revisão e aprimoramento nos processos de controle e regulamentação. A FDA expressou a intenção de analisar o incidente e considerar a possibilidade de buscar maior autoridade junto ao Congresso para prevenir futuros surtos semelhantes.

A porta-voz da Associação da Indústria Alimentícia, Heather Garlich, optou por não comentar o recolhimento da compota de maçã, afirmando apenas que os EUA são líderes globais em segurança alimentar devido à supervisão governamental, parcerias público-privadas rigorosas e iniciativas industriais.

A política de segurança alimentar é abordada como uma questão de amostragem, reconhecendo a impossibilidade de a FDA abrir todas as caixas importadas de produtos e testar todos os contaminantes potenciais. Críticos, como Faber, destacam que a FDA concedeu excessiva autoridade de supervisão às empresas.

A Lei de Modernização da Segurança Alimentar, sancionada em 2011 pelo presidente Barack Obama, conferiu à FDA o poder de recolher alimentos, rastrear produtos e descartar suprimentos de empresas estrangeiras que rejeitam inspeções norte-americanas. Contudo, a lei não equiparou a FDA ao Departamento de Agricultura em termos de supervisão, evidenciando diferenças significativas entre os dois órgãos reguladores alimentares.

Em 2022, a FDA solicitou ao Congresso autoridade para estabelecer limites para metais pesados e exigir testes desses elementos pelos fabricantes de alimentos para bebês, mas não houve ação por parte do Congresso.

O caso da compota de maçã contaminada, que envenenou centenas de crianças nos EUA, é detalhado, evidenciando falhas no sistema de segurança alimentar. A investigação revela que a contaminação ocorreu durante o processo de produção no Equador, com a FDA sugerindo que um moedor de especiarias, incluindo canela, foi responsável. O rápido recolhimento da compota de maçã foi elogiado pela FDA como uma medida que protegeu o abastecimento de alimentos dos EUA.

A responsabilidade da indústria em se policiar não é total, sendo destacado que a lei de segurança alimentar exige que a FDA intensifique a supervisão no exterior, mas a agência não atingiu suas metas de inspeções internacionais. Os documentos mostram uma falta de fiscalização efetiva nas empresas envolvidas, tanto nos EUA quanto no exterior, com auditorias privadas muitas vezes limitadas a riscos conhecidos pelos importadores.

A mãe da Carolina do Norte, Nicole Peterson, cuja persistência levou à descoberta da fonte da contaminação, busca respostas e justiça após seus filhos serem envenenados. A Austrofood, empresa envolvida na produção da compota de maçã contaminada, não testou adequadamente os produtos em busca de chumbo, confiando em certificados de fornecedores. A FDA enfrenta críticas pela falta de inspeções adequadas e pela ausência de uma agência reguladora independente na cadeia de abastecimento internacional.

Fonte: Gazeta Brasil